Uma notícia abalou o mercado financeiro e de tecnologia brasileiro nesta terça-feira (4): O Banco Central do Brasil comunicou aos participantes do consórcio de testes do Drex que a plataforma atual do projeto será desligada.
A decisão, confirmada por diversas fontes do mercado financeiro, representa o fim da atual fase do piloto da Moeda Digital de Banco Central (CBDC) brasileira e coloca um ponto de interrogação sobre o futuro da tokenização da economia no país.
Este movimento não é uma simples pausa, mas sim o abandono da arquitetura tecnológica testada até aqui, forçando o BCB a "começar do zero" em uma nova infraestrutura.
O Que Aconteceu Exatamente?
Hoje, em reunião com os bancos, fintechs e demais entidades que participam do Piloto Drex, o Banco Central anunciou que a plataforma DLT (Distributed Ledger Technology) — baseada na blockchain Hyperledger Besu — será descontinuada.
Fontes indicam que o desligamento efetivo da rede de testes está agendado para a próxima segunda-feira, 10 de novembro de 2025.
Esta decisão encerra abruptamente as fases 1 e 2 do piloto, que estavam em andamento desde 2023. O projeto, que já havia sofrido uma "pausa estratégica" em março de 2025, onde o cronograma de lançamento (anteriormente previsto para o final de 2024 ou início de 2025) foi oficialmente descartado, agora enfrenta seu maior revés.
🏛️ O Motivo Central da Falha: Privacidade e Segurança
Como especialista em compliance e legislação, posso afirmar que o motivo do fracasso não foi a falta de funcionalidade, mas sim a incapacidade de atender a requisitos legais e de segurança fundamentais.
A principal razão para o abandono da plataforma Hyperledger Besu foi a falha em solucionar questões críticas de privacidade.
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Quebra do Sigilo Bancário (LGPD): A arquitetura testada não se mostrou robusta o suficiente para garantir o sigilo bancário, exigido pela legislação brasileira (Lei Complementar 105/2001), e o cumprimento integral da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
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Rastreabilidade vs. Privacidade: Embora uma CBDC precise ser rastreável para fins de compliance e Prevenção à Lavagem de Dinheiro (PLD/FT), a solução de privacidade adotada (chamada ZK-Snarks, em implementações testadas) mostrou-se inadequada ou complexa demais para garantir que as transações entre indivíduos e empresas fossem privadas, ao mesmo tempo que permitissem auditoria regulatória.
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Maturidade da Tecnologia: Relatórios do próprio BCB, divulgados no início de 2025, já apontavam a necessidade de "aprofundar estudos que garantam privacidade". A decisão de hoje confirma que, após meses de testes adicionais, a tecnologia DLT escolhida não atingiu o grau de maturidade esperado pela autoridade monetária.
Análise: Impacto no Mercado e o Futuro Incerto
A descontinuação do Drex, como o conhecíamos, tem implicações profundas:
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Incerteza sobre o Futuro da CBDC: O BCB afirma que criará uma nova infraestrutura, mas não há clareza se ela usará blockchain. Fontes do mercado sugerem que a autoridade monetária pode optar por uma abordagem centralizada, priorizando os casos de uso (como a tokenização de ativos) em vez da tecnologia DLT.
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Desaceleração da Tokenização: O Drex era visto como o "trilho" principal para a tokenização de ativos (imóveis, veículos, títulos públicos e privados). Sem essa plataforma de liquidação oficial, o mercado de tokenização perde tração e previsibilidade regulatória.
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Perda de Posição na Corrida Global: O Brasil era considerado um dos líderes globais na corrida das CBDCs, muitas vezes citado ao lado da China (com o e-CNY). Este passo atrás coloca o país em compasso de espera, enquanto outras jurisdições avançam.
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Foco no PIX e Open Finance: Com o Drex "na geladeira", é provável que a gestão do Banco Central (atualmente sob presidência de Gabriel Galípolo, segundo notícias de mercado) concentre seus esforços de inovação no PIX (com o Pix Garantia e Pix Automático) e na expansão do Open Finance, que são projetos com sucesso consolidado.
O Que Esperar Agora?
O Banco Central deve "começar do zero". A nova abordagem, segundo relatos, será focar primeiro nos casos de uso desejados para o Real Digital e, só então, definir qual infraestrutura tecnológica (seja ela DLT/Blockchain ou não) é capaz de suportá-los atendendo aos rigorosos requisitos de privacidade e segurança.
Uma nova "Fase 3" do projeto é especulada para começar em 2026, mas sem qualquer garantia de cronograma ou tecnologia.
Para o mercado financeiro, bancos e corretoras que investiram milhões de reais no desenvolvimento de soluções para o piloto Drex, a notícia é um balde de água fria. Para os defensores da privacidade, é um sinal de que o compliance e a legislação prevaleceram sobre a pressa tecnológica.
📚 Fontes (Notícias de 03 e 04 de Novembro de 2025):
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InfoMoney: "BC desliga plataforma do DREX usada até agora por problemas de privacidade"
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Money Times: "Após 4 anos de Drex, Banco Central abandonará projeto do 'real digital', diz publicação"
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Finsiders Brasil: "BC desliga plataforma Drex e diz que criará nova infraestrutura"
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Broadcast (Estadão): "Drex perde espaço na gestão de Gabriel Galípolo"
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TradingView News / Cointelegraph: "Flopou: Banco Central anuncia que vai desligar o Drex"
